O Quociente Espiritual no mundo corporativo
...esse novo ser humano, mais capaz de questionar o propósito da vida irá, de diferentes formas, pressionar uma mudança de consciência nas próprias empresas e instituições, de dentro pra fora. Será muito difícil conter esse rio vigoroso e cheio de vontade de transformar o mundo num lugar mais justo, que preza o respeito a vida, as relações sociais e o meio ambiente.

Nos anos 20, Edward Barnays, apoiando-se em estudos do tio Sigmund Freud, dava início ao que passou a ser chamado de Psicologia do Consumo, colaborando significativamente para a ascensão do lucro na história do capitalismo. A partir daí, temos visto não apenas as empresas fabricantes de produtos, mas também organizações, instituições e até mesmo partidos políticos fazendo uso do estudo do ser humano para atingir o ponto neural onde seus desejos mais íntimos se escondem.
Com esse refinamento ao longo dos anos, ficou inevitável que tais corporações passassem a fazer também uma análise de dentro pra fora, ou seja, avaliar sua produtividade e rendimento interno. E é neste tema que peço licença para dar um salto quântico e falar um pouco pra você sobre o que os grandes visionários da atualidade estão incorporando neste momento de negócios da nova era.
Hoje já podemos ouvir no universo científico e empresarial classificações como Capital Espiritual, Inteligência Emocional e, a mais recente, Quociente Espiritual. Esse tem sido o tema central dos cursos de treinamento das grandes empresas, como uma maneira de tornar os funcionários mais produtivos. Virou uma espécie de moda da nova era no Vale do Silício. Executivos da Google lançaram o SIY - Search Inside Yourself (Procure Dentro de Você), um programa de treinamento para seus funcionários baseado na Atenção Consciente e Inteligência Emocional e Espiritual, realizando palestras e atividades de meditação que inclui a participação de mestres do budismo e especialistas em alimentação saudável. O empresário Rupert Murdoch chamou a atenção da mídia quando anunciou recentemente que está praticando a meditação transcendental, dizendo que isso promove alteração na expressão dos genes e, consequentemente, a redução da resposta inflamatória do corpo.
Mas não só as corporações que estão interessadas nessa nova moeda, os próprios funcionários estão entendendo o valor que isso agrega a suas carreiras. Ter uma alta Inteligência Emocional/Espiritual passou a ser um fator de diferenciação, pois sinaliza uma pessoa que sabe manter boas relações de trabalho e que não se afeta com as reestruturações da empresa, mudanças de cargo ou que não enlouquece com “deadlines”. Um funcionário que exercita essas virtudes também tem enormes ganhos pessoais. Muitas pesquisas científicas já comprovaram os efeitos positivos de práticas como a meditação, entre eles o alívio do estresse, maior foco, estabilidade emocional, evita depressão, aumenta a criatividade, contribui na saúde física e mental, melhora o sono, traz estabilidade emocional, melhora a função cognitiva, amplifica a memória, promove a autoconfiança, etc.
Um ser humano com essas qualidades é, sem dúvida, feliz, produtivo e capaz de colaborar de maneira positiva em tudo o que o cerca. E, a partir daí, a categoria Inteligência Espiritual passa a ser, inevitavelmente, o passo seguinte. Nessa nova “fase” o funcionário é quase um sócio da empresa, ele se empenha porque acredita no que faz, vê ali um reflexo de seus valores, um combustível para a sua criatividade e vontade de realizar seu papel, ou seja, o estímulo surge de um outro lugar, não do bolso ou do status, mas do lugar onde habita sua essência/verdade como ser humano espiritual, interconectado com tudo e todos que o cercam.
Para entendermos melhor, coloco aqui algumas das principais características de uma pessoa espiritualmente inteligente:
1. Praticam e estimulam o autoconhecimento profundo;
2. São levadas por valores - são idealistas;
3. Têm capacidade de encarar e utilizar a adversidade;
4. São holísticas;
5. Celebram a diversidade;
6. Têm independência;
7. Perguntam sempre "por quê?";
8. Têm capacidade de colocar as coisas num contexto mais amplo;
9. Têm espontaneidade,
10. Têm compaixão.
Essas pessoas buscam fazer aquilo que tem mais sentido para suas vidas, e isso significa que não querem fazer as coisas apenas por dinheiro, mas sim porque se alinham aos seus valores. E quando isso acontece passam a ser pessoas mais criativas, capazes de insights, fazem mais do que se espera delas, se sentem mais motivadas, menos estressadas e, por fim, mais felizes, pois estão no caminho daquilo que na espiritualidade oriental é chamado de
"Swadharma", ou seja, estão realizando o seu propósito de vida, que necessariamente se comunica e reverbera de forma positiva na comunidade, atrelando ao seu talento um atributo ainda maior, o de promover o bem comum. Dessa forma, o seu trabalho e a vida ganham mais significado. Comparado a inteligência emocional, esta nova capacidade está imantada de poder transformador e criativo.
Mas o que eu particularmente considero mais interessante nisso tudo é ver que esse novo ser humano, mais capaz de questionar o propósito da vida irá, de diferentes formas, pressionar uma mudança de consciência nas próprias empresas e instituições, de dentro pra fora. Será muito difícil conter esse rio vigoroso e cheio de vontade de transformar o mundo num lugar mais justo, que preza o respeito a vida, as relações sociais e o meio ambiente. Ele ajudará a remodelar o significado, propósito e valores dessas corporações e instituições, e espero que um dia também, dos partidos políticos. O caminho da sustentabilidade será primordial nesse processo, porque caso contrário, sobrará apenas gigantes obsoletos que se auto destroem, e as empresas já estão enxergando isso. Não é porque acham “bonitinho” que estão investindo fortunas em pesquisas de energia limpa, incentivando pequenos produtores, restaurando áreas verdes, etc; mas sim porque as cobranças nesse sentido estão se intensificando, nossas cobranças. Nós temos esse poder transformador em nossas mãos, como consumidores em potencial e como membros de uma sociedade apta a se unir a favor de um interesse comum, e podemos dizer não àqueles que não aplicam a responsabilidade social e ambiental em seus negócios.
Vamos ser otimistas!
Alê Calor

Para saber mais: “QS Inteligência Espiritual” - Danah Zohar - editora Record